2010年11月3日 星期三

Quero uma cinemateca macaense. Uma cinemateca autêntica para todos.



A semi-lendária “Cenas do Rio em Macau” (1898), considerada a primeira filmagem do território, foi uma vez revelada textualmente numa brochura do Instituto Cultural sete anos atrás. A gravação original está coleccionada na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e há uma cópia na Cinemateca de Hong Kong. Estas paisagens “vivas” que José Vicente Jorge e Camilo Pessanha viram hoje fazem apenas parte do “património intangível” – o vídeo não se encontra disponível no arquivo histórico nem nas bibliotecas públicas.

Há seis anos quando comecei a participar na Associação de História da minha escola secundária, foi-me oferecida uma acta por um estudioso da Associação para Protecção do Património Histórico e Cultural. Na acta alguns académicos chineses já se mostravam atentos à “construção” de uma imagem histórico-cultural de Macau através do cinema. Houve, a partir daí, várias ocasiões em que tive oportunidade de contactar este tema “Macau e o cinema”. Os historiadores e estudiosos locais que eu lia há uns anos tinham uma consciência de que a memória, ou as informações recolhidas de forma da história oral, era um dos materiais essenciais mas considerados desinteressados na altura. Porém, entre os materiais de investigação destacados por estes autores não está incluída (ou não está directa e evidentemente incluída) a imagem em movimento.

Foi no primeiro ano da minha vida académica que, embora quase não percebesse nada da língua portuguesa, visionei vários documentários produzidos pelo canal português da Teledifusão de Macau (TDM), nas bibliotecas do Museu de Artes (MAM) e da Universidade de Macau. Estas imagens dos anos 80 e 90 com que tive contactos visuais são simplesmente singelas e saudosas. O mais importante: como poucos dos documentários ou filmes relacionados a Macau, foram publicadas e adquiríveis – pelo menos até terem sido esgotadas no MAM há poucos meses ou uma irmã da Livraria S. Paulo dizer-me: “agora ninguém compra cassete de vídeo”. Também não posso deixar de mencionar os cinco volumes da “História Oral” (2005-2009) em chinês, publicados pelo Espaço Vídeo e Associação dos Estudantes do Instituto Aberto da Universidade da Ásia Oriental, posteriormente com a colaboração da Associação de História de Macau. Junto a cada volume da série, é oferecido aos leitores um exemplar de entrevistas em DVD. O caso é, entre as edições homólogas e até agora, o único.

“Macao, l’Enfer du Jeu” (1939) de Jean Delannoy, “Macao” (1952) de Josef von Stemberg e “The Dragon of Macao” (1965) de Ezaki Saneo são alguns exemplos famosos para se conhecer como é que o mundo entendia esta pequena terra. Ao longo das décadas, já foram realizados inúmeros projectos, produções e filmagens, directa ou indirectamente relacionados a Macau. Como é que as protegemos, as coleccionamos e as utilizamos, na minha opinião, poderá ser uma das questões mais importantes para o desenvolvimento das indústrias criativas e culturais e a sua continuidade.

Os artigos sobre a imagem em movimento que temos oportunidades de ler, tal como todos os outros aspectos da cidade, muitas vezes podem reflectir a convivência de diferentes culturas em Macau. Quem escreve sobre as obras de Miguel Spiguel, provavelmente não sabe os filmes chineses como “Rouge” (1987) de Stanley Kwan; e quem fala da telenovela “Return of the Cuckoo” (2000) produzida pela TVB de Hong Kong, é possível que nunca veja nenhum documentário produzido pelo canal português da TDM. Acredito que o estabelecimento de uma boa cinemateca poderá contribuir para o melhor conhecimento mútuo entre as comunidades. Ora, é urgentíssimo que se funde uma cinemateca, se reorganize e se preserve sistematicamente esta riqueza tão preciosa e se devolva verdadeiramente este “património intangível” à população de Macau.

Surgiu uma vez a “Cinemateca de Macau”, embora meramente uma webpage “em construção” da associação “Cut”, que hoje tem uma designação mais prática - “Base de Dados de Vídeo da Cut” (http://www.cutmacau.org/). Seja como for, foi uma ideia muito bonita que poderia e deveria ser realizada por e para todos. Desejo sinceramente que seja criada no próximo futuro uma Cinemateca Macaense, pelo amor a Macau.

“Love is a many-splendored thing…”

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