2010年10月30日 星期六

澳門傳媒對筷子基平民大廈重建的反應

二零一零年八月四日,一直關注澳門公屋建築筷子基平民大廈的葡文《澳門論壇日報》記者彭愛嘉(Raquel Carvalho)在該報當日頭版報導上「盜用」了諾貝爾文學獎得主馬爾克斯(台譯馬奎斯)一部小說的標題《預知死亡紀事》(註一)。這是葡國建築師協會會長訪澳兩個多月後本地傳媒首次重提筷子基平民大廈的重建問題。同日除了一些華文媒體報導的老翁拒遷事件外,幾乎空置的大廈內只剩下零星燈火,沒有新聞,然而《論壇日報》卻以頭版、內頁兩版大幅描述即將清拆重建的平民大廈。葡文傳媒所說的拆建「爭議」,並沒有引起更多捍衛公屋回憶的行動。

報章指的舊筷子基平民大廈,原名為筷子基平民坊(註二),坐落於古稱赤洲的「筷子基半島」,一九八一年建成,八四年入伙,由葡裔建築師韋先禮(Manuel Vicente)和Paul Sanmarful於七九年設計。這平民坊取代了一九三二年落成的公屋「五二八坊」,並已於二零一零年拆掉重建,今天仍然保留下來的就只有「一雙筷子」和葡國軍政府「革命紀念」的痕跡──筷子基的南、中、北三街(葡文分別以葡國前內閣總理飛喇士、前總統高士德(註三)和前屬務總長俾若翰的名字命名)。一九九五年,新的筷子基平房坊獲亞洲建築師協會金獎。該平房坊是一個小型社區,過去有衛生中心、托兒所、餐室、商舖等設施,還有大廈範圍內充裕的公共空間和一座土地廟。

自去年季秋筷子基平民大廈「可能」需重建的消息傳出後,澳門各種語種傳媒反應不一。當局公開計劃後,翌日華文媒體即發放了消息,可是較晚後才報導大廈的價值,相對低調。葡文傳媒則相反,多次以筷子基為頭版新聞。《論壇日報》是最早關注平民大廈價值的本地報章,去年十一月十九日已經率先以頭條報導事件,馬若龍、雅迪、馬斯華、樊飛豪等建築師接受訪問時表示支持保留活化平房大廈;澳門建築師協會則在受訪後成了本地首個支持保留原作的社團。

一些中、葡建築師曾表達對該區人口密度的擔憂,不過公共房屋的嚴重不足所引起的社會矛盾、所牽涉的利益關係,比筷子基平民大廈本身的價值更容易成為華文傳媒的焦點。在這樣 的背景下,澳門居民更關注的也自然是公共房屋的供求。另一方面,葡文媒體的讀者、觀眾相對少得多,報導手段相對大膽。加上葡文報章篇幅一般較少,報導文物、建築的比例相對重得多,筷子基社屋就成了四份葡報的採訪焦點(澳廣視葡文台新聞也談及過重建的「爭議」,《論壇日報》和《句號報》更曾以頭版報導)。去年係澳門特別行政區成立十週年,國內外傳媒再次聚焦此地,當中葡新社發出的相關消息令一些葡國報章也注意到此事。另外,國外的兩份華文報章──巴西《美洲華報》和葡國《葡華報》亦有相關報導。

至於本地華文媒體,澳門建築師協會理事長去年十一月接受《論壇日報》專訪的內容譯成了中文,在該會冬季會刊上刊登。今年年初,澳門文物大使協會表態支持活化,並透過《澳門日報》和《華僑報》等報章發佈了新聞稿,華文讀者首次可透過這兩份主流報章得知筷子基平民大廈的價值。後來,文物大使協會就立法保護本地文物公開表態和該會會長接受《句號報》專訪時,再次提及到筷子基「事件」。二月,澳門文物保存修復學會會長在《華僑報》上發表文章,質問「難道筷子基就沒有值得保留的建築?」四月,筷子基成了香港華英雙語的建築設計月刊《透視》封面主題,篇幅比同一期的澳門科學館專題還要多。英文《澳門每日時報》和月刊《澳門商訊》英文版也有相關評論。可是,如果單從文章數目來看,葡文傳媒所佔的比例遠遠超出華文媒體,但大部份澳門居民不懂葡語,無法讀到建築師的意見。

二十世紀中以前澳門公屋歷史見證,就只剩下的巴波沙坊「大庇寒畯(峻)」牌坊仿製品,「殖民時代」建成的路環社會房屋和舊氹仔平民屋村已不復見。繼筷子基平民大廈後,六十年代的羅必信夫人大廈和七十年代的嘉翠麗大廈將隨之重建。重建可換來更多的單位和更好的居住環境,這一點大家都是贊同的,也是必須的。可是從這次重建看來,澳門居民對本地公屋歷史似乎還未有太多的關注。澳門的公屋歷史比鄰近地區的還要長,公屋居民甚少,也沒有像香港對公屋過去的感情和歸屬。

從「筷子基平民大廈清拆事件」可窺看到一些澳門傳媒的生態景象,它們與澳門社會本身有著千絲萬縷的關係之餘,又對社會產生不同程度的影響。在澳門近期的幾宗「文物保育風波」裡,傳媒本身均有直接參與。澳門傳媒不同的報導手段和內容,以及其立場亦係其精彩所在。另一方面,「筷子基事件」揭示了建築文物和公屋回憶在澳門的一些問題。在世界遺產的效應下,現在的澳門的確會比廿、卅年前有更多的文物保護意識。然而,近年的急速發展令不少在官方名單以外具歷史價值的古老房屋和具時代意義的當代建築不斷消失,而澳門各語種傳媒在這時往往有令人感到意外的反應。

註一、西班牙文原題為《Crónica de Una Muerte Anunciada》。內地和台灣分別有《一樁事先張揚的兇殺案》和《預知死亡紀事》兩種譯本。

註二、「平民坊」一詞為葡文「Bairro Social」的漢譯,意為社會屋村,比上世紀末出現的新譯「平民大廈」更貼近原意。
 

註三、與前澳督高士德的名字漢譯相同。

2010年10月22日 星期五

À procura de uma trança feiticeira

Finalmente acabei de fazer esta tradução livre de um artigo do Dr. Chan Chi Fong, docente de part time da Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Macau. O Dr. Chan visitou o Doutor em 2005. O artigo foi publicado no seu blogue em 2008. Um pouco exagerado e grande este artigo. De qualquer forma, interessante.

À procura de uma trança feiticeira

Chan Chi Fong

Se quiseres procurar as pegadas perfumadas de A-Leng, e se quiseres relembrar e admirar o feitiço de um profundo sentimento da sua grande trança tão preta como breu, tão brilhante e tão lisa, terás que passar pela Estrada da Vitória, andar na Rua Nova da Guia e tomar um atalho nesta calçada, vira à direita e chegarás às ruas do mercado do tão transitado “Cheok Chai Un” (Horta da Mitra). Porém, para voltares aos anos 30, àquela época em que existiam paralelamente a “Cidade Cristã” e o “Bazar Chinês”, terás que ter os profundos olhos como os tem Henrique Rodrigues de Senna Fernandes, conhecido como “escritor português filho da terra” e “escritor da memória”, terás que espreitar de um ponto de vista da história e terás que atravessar o passado, com uma forte admiração, uma encantadora verve e uma intolerável saudade. Talvez, com uma sorte extraordinária, a trança, preta, lisa e lindíssima, possa dar-te uma surpresa. 

……然後“像一條美麗的蛇/引誘我越過牢固的邊界/她纏繞著我的身體/我們無法分離”1,從此緊緊的被那條大辮子綑綁著,深深因為阿玲而傾倒。

Tendo lido a versão chinesa d’A Trança Feiticeira de Henrique de Senna Fernandes, fiquei encantado pelos cantos das ruas antigas descritas nas suas obras, e ainda por cima, fiquei profundamente fascinado por aquela “aguadeira” A-Leng que cresceu no “Cheok Chai Un” da comunidade chinesa no romance. 

Nas esquinas antigas de Macau das obras de Henrique de Senna Fernandes enche-se um sentimento muito sossego mas simultaneamente animado. Os tranquilos bairros onde residiam os portugueses e os filhos da terra, as velhas figueiras que alinhavam os dois lados de cada rua e a calçada à portuguesa. Elegantes e românticos, transbordantes de um encanto encantador da Europa do Sul e de Portugal litoral. As ruas e os bairros, que estendiam a partir das igrejas católicas como núcleos, eram chamadas freguesias. Uma freguesia a outra. Era portanto designada elegantemente a “Cidade Cristã”. Ao pé desta, eram outras cenas. Era muito movimentado onde os chineses viviam. A Rua dos Mercadores, o Largo do Pagode do Bazar, o Cheok Chai Un… Não havia nenhum lugar onde não estivesse cheio das pessoas e das suas vozes. Embora dura a vivência, feliz de quem se contentava com o que tinha. Vendilhões e lojas. Vivo e energético. O nome do “Bazar Chinês” era assim conhecido sem ser promovido.

Entre a “Cidade Cristã” e o “Bazar Chinês”, conviviam os chineses e os estrangeiros. Porém, as classes e as distinções entre os residentes chineses e portugueses faziam com que as relações fisicamente íntimas se limitassem apenas a se suportar a vida. Além disto, nunca se encontravam. Até excluíam os outros, oponham-se uns aos outros, odiavam os outros e eram hostis aos outros. Folheando a história moderna de Macau, quantas pessoas choraram e sangraram por causa das extremas diferenças culturais entre as nações, o que nos surpreenderá? Como é que se poderiam reconciliar o mútuo rancor acumulado pelo sangue e o ódio entre as nações? Provavelmente a literatura de Henrique de Senna Fernandes deu-nos uma resposta satisfatória.

Henrique de Senna Fernandes contou de uma forma atraente uma história de fadas. “喜結良緣,兒孫滿堂,白頭到老”2. Uma história de amor muitíssimo comovente sobre um jovem filho da terra Adozindo e uma pobre menina chinesa A-Leng. Os dois jovens, em cujos corpos corriam os sangues de etnias diferentes, possuíam distintos contextos religiosos e conceitos culturais, falavam diferentes línguas, experimentavam os processos de crescimento completamente diferentes, tinham uma distância grandíssima de classes… O amor deles era tão tocante que lhes doía tanto. Um fim satisfatório tem feito os leitores satisfeitos. O amor amargo de tantos sofrimentos, a solidão do abandono de famílias, a exclusão dos estreitos conceitos, a angústia da vivência dura... A história de amor de Adozindo e A-Leng – história de amor de um filho da terra e uma chinesa pobre, teria que atravessar o alto muro edificado pelas culturas muito diferentes. De facto, que força vencerá as dificuldades, resolverá o preconceito e a discriminação e, resultará de um amor imortal?

De qualquer maneira também desejava visitar o Senhor Henrique de Senna Fernandes. Não conseguia imaginar que afinal a deusa aos olhos de escritor filho da terra seria uma “aguadeira” pobre, de origem chinesa, lindíssima, e que tinha um grande trança brilhante e lisa. Inesperadamente, A-Leng possuía uma força mágica que reconciliaria os conflitos entre as culturas tão diferentes.

A visita a Henrique de Senna Fernandes dependeu inteiramente da recomendação da Sr.ª Directora Lau Sin Peng3. Lembro-me que foi o sétimo dia do primeiro mês no calendário lunar, um dia de chuva. Coincidiu com a chegada de um corrente frio, desceu de repente a temperatura. Foi um dia especial, a Dr.ª Lau acompanhou comigo e com a minha aluna Kin Ieng. Chegámos ao escritório de Henrique de Senna Fernandes, visitámos este escritor filho da terra aos 82 anos de idade.

Chegámos um pouco mais cedo do que a hora marcada. Tendo mostrando a nossa intenção, a senhora secretária convidou-nos a sentar. Dentro em breve, vimos que veio lentamente um corpulento senhor de idade. Levantámo-nos educadamente e saudámo-lo cordialmente. Sorriu-se e acenou com a mão. Pediu-nos em inglês que nos sentássemos mais um pouco.

Passados cinco minutos, a senhora secretária informou que podíamos entrar. Estava a sentar-se Henrique de Senna Fernandes, sério e solene. Sentámo-nos, atraídos pelo seu forte perfume da eau de Cologne. Cabelo crespo e prateado, cheio, limpo e ordenado. Tem uma visão penetrante. O leve azul europeu dos seus olhos é profunda e nitidamente transparente. O perfil profundo, as feições claras, são obviamente características comuns dos latinos. Uma cara cheia de rugas entrelaçadas declarou uma rica experiência da vida. Henrique de Senna Fernandes cumprimentou-nos cordialmente, mostrando esperar que a entrevista terminasse dentro de uma hora. Claro que não tivemos nenhuma objecção. A sua voz é um pouco rouca, confundindo obscuramente um som meio-metal. A entoação é muito profissional. Calma e nada sentimental.

Agarrando o tempo, fui primeiro que coloquei questão. Directamente perguntei, em relação a esta obra A Trança Feiticeira, sendo um escritor filho da terra, porque é que fez esta surpreendente escolha de uma “aguadeira” pobre, vindo do “Cheok Chai Un” na baixa do “Bazar Chinês”, como uma protagonista que seria capaz de alterar o fim? Afinal, como é que este grande escritor apreciou esta jovem senhora descalça e que possuía um corpo esbelto e bem feito e uma grande trança tão preto como breu?

Talvez tivesse eu perguntado do centro do romance! Reparei uma pequena mudança da cara de Henrique de Senna Fernandes, que tinha sido toda séria. Foram perguntas e respostas muito profissionais e práticas, até a esta minha pergunta. Na cara dele expressou-se um pouco ansioso. Alterou uma outra posição sentada mais confortável, inclinou-se e encostou-se à encosta em couro genuíno da luxuosa cadeira de gabinete. Fechou os olhos. Parecia que estava a recordar ou apreciar qualquer memória. Respirou fundo. Lentamente disse: “Enfim, jovem, consegues compreender a ternura da mulher chinesa?” Não esperando pela minha resposta, continuou: “Sabes, só se uma mulher chinesa se apaixonar por ti, consegues então compreender profundamente aquela ternura. Em especial quando estiveres doente, quando estiveres fraco.” Disso-o, levantou-se e levou da estante atrás da cadeira um álbum de fotografias, que é O Olhar de Henrique de Senna Fernandes - Fragmentos, publicado no ano passado. Folheou, procurou e encontrou uma página em que se reúnem algumas velhas fotografias do casamento e família de Henrique de Senna Fernandes. Apontou levemente aquela senhora elegante, vestida de branca e ocidental e disse: “Casei-me com uma senhora chinesa, que me deu uma ternura tão sentimental.” Pausou, suspirou e fechou os olhos fortemente. Mostrando-se triste na sua cara, enrouqueceu a sua voz e disse: “Mas... já foi...”

Não se estranha que o amor que os dois romances contam seja profundo e tocante. Afinal este velho homem de 82 anos que está em frente de mim é uma pessoa sentimental que tem uma saudade tão profunda da sua falecida esposa, tão sincera, tão comovente.

“Sim, jovem, não mencionaste A-Leng?” Disse eu sim com a cabeça e perguntei: “É a imagem da sua esposa?” Henrique de Senna Fernandes por sua vez disse não com a cabeça, respondeu levemente: “Não. A-Leng. Como é que digo? Ela era mais ou menos uma imagem profunda daquele tempo quando eu era jovem.” Disse-o, mudou novamente a posição sentada e continuou: “Quando era ainda aluno do liceu, morava perto da Estrada da Vitória. Passava sempre pelas ruas do ‘Cheok Chai Un’, era mais rápido. Naquele tempo via sempre as raparigas chinesas que trançavam. Para mim eram lindíssimas. Uma delas era alto, elegante, linda e descalça. Aquela grande trança, fazia-me querer tocar... Esta imagem dela foi ficando uma imagem fascinante, uma imagem de uma mulher intocável. Lembro-me que gastei muito tempo no trabalho de casting, quando A Trança Feiticeira veio a ser um filme. Entrevistámos muitas lindas mulheres de géneros diferentes, mas não tinham aquele temporamento que A-Leng tinha.”

“Que temportamento?” perguntei. Henrique de Senna Fernandes respondeu: “A-Leng é uma rapariga inteligente, corajosa e alto-confiante. É uma mulher decidida que pode fazer tudo para defender o amor e a felicidade. Uma mulher que luta com a pinga pelo seu amante, se alguém o ofender.”

“Realmente, o amor de uma ‘aguadeira’ e um filho da terra seria tão amargo?” perguntei. Henrique de Senna Fernandes respondeu assim: “Naquele tempo raramente os rapazes filhos da terra de famílias ricas casavam-se com as raparigas chinesas. As diferenças entre as religiões e fé, contextos culturais, classes sociais... De qualquer forma, eram terríveis. Sofreram tantos impedimentos.” Pausou e disse: “Mas, se amares sinceramente uma pessoa, não te importas com a sua origem nem passado. Se amares sinceramente uma pessoa, nenhuma diferença vês entre vocês. Quando amares completamente uma pessoa, amas a todo o custo. Este é o amor real, que eu compreendo, portanto o que descrevo no romance é o amor real.”

“Então, seria o amor real que resolveu os conflitos entre a China e Portugal?” Fiquei extremamente surpreendido. Henrique de Senna Fernandes bateu na sua coxa, fazendo um som claro, e continuou: “Então não é? Além do amor, que força maior do que essa no mundo poderá reconciliar os conflitos?” “Permita-me colocar mais questões!” Solicitei. Henrique de Senna Fernandes acenou a mão, um gesto de “à vontade”. “No filme A Trança Feiticeira finalmente escolheu-se a actriz da China Continental Ning Jing a interpretar o papel de A-Leng. Será a imagem de A-Leng?” Henrique de Senna Fernandes riu-se satisfeito, “A-Leng é esta imagem. À primeira vista de Ning Jing, disse eu: ‘Ó meu deus! A-Leng não era assim que tinha este temporamento?’...”

Naquela tarde de chuva, saí muito contente do gabinete de Henrique de Senna Fernandes. Depois passei sozinho pelo “Cheok Chai Un”, tentando procurar as ruas em que A-Leng andava. Porventura estás a procurar as pegadas dela. Ou talvez, numa tarde após chuva e névoa, as encontres, quebrando o limite do tempo, passando pelas esquinas do passado de Macau. Neste momento ela, virando a cabeça, brincando com aquela trança preta e lisa, sorrindo-se leve e timidamente, talvez assim tenha prendido fortemente o teu coração.


1. Poemas de Yao Jingming, recolhidos no O Olhar de Henrique de Senna Fernandes – Fragmentos, publicação do Instituto Internacional de Macau e Fundação Jorge Álvares, 1ª edição, Dezembro de 2004.
2. Palavras da crítica Ana Lopes, recolhidas na versão chinesa de A Trança Feiticeira, publicação do Instituto Cultural de Macau e Editora Montanha das Floras, Agosto de 1996.
3. Vice-Presidente da Assembleia Geral da Associação de Educação de Macau. Educadora experiente.

2010年10月19日 星期二

"Aquele velho homem que escreve o amor e os dedinhos de pé"

Hoje encontrei um artigo de um escritor ou uma escritora que escreveu com o seu pseudónimo Gu Yu (que significa Chuva de Trigo) sobre o Doutor Henrique de Senna Fernandes no jornal Ou Mun. Publicou-se o artigo na coluna conhecida “Rua Formasa” do diário em chinês. Agora acabei de fazer esta tradução.

Gu Yu


O escritor filho da terra, Henrique Rodrigues de Senna Fernandes era um homem velho, não alto, gordinho e que tinha um brandy nose. Quando escrevia a tese [de licenciatura], estive uma vez no seu escritório na Nam Van (Praia Grande). Lá estava pendurada uma grande fotografia da actriz Ning Jing. Tendo visto que eu estava a escrutinar esta fotografia, o homem velho riu-se e disse: “She's beautiful, isn't she?! I love her.” Era esta uma fotografia de modelagem de Ning Jing na filmagem d’A Trança Feiticeira. Lisa e abundante a testa, brilhantes os grandes olhos, cheios de sorriso, doce é a actriz.


Aconteceu isso há cerca de cinco anos. A minha colega “I-sap-gou-pao” [literalmente, vinte pães] (Isabel) que estava ainda em Portugal ajudou-me como intermediária a marcar uma hora. Na conversa ele apresentou-me os seus contos em livro “Nam Van”. Dizendo-lhe que não se encontrava à venda, ofereceu-me já no dia seguinte um traduzido para chinês, que bom. Embora me sentisse um pouco desapontado quando acabei de o ler, uma vez que, nalguns contos, o seu olhar, o olhar para o mundo dos chineses é de alto para baixo. Ainda é em A Trança Feiticeira que se descrevem mais viva e razoavelmente aquela aguadeira, aquele belo filho da terra de uma rica família.


O que Nam Van reúne é as suas obras iniciais, cujas histórias ainda são bastante boas. Porém, o seu estilo de escrita era menos natural do que dos posteriores romances, os papéis não eram suficientemente ricos, e ainda por cima, quando contava as histórias dos chineses, mais ou menos tinha uma pena, de alto para baixo. Não me sinto muito agradável quando o leio.


Uma vez ele disse-me: “Amanhã arranjo-te o meu Nam Van, tem que ser o teu favorito.”


Peço desculpa. Esse não foi o meu “favorito”, do qual gosto mais é o seu Amor e Dedinhos de Pé. Este romance contou o amor entre dois filhos da terra. Não apenas é atraente a história, mas também são mais caracterizadas as personalidades no romance do que as outras duas obras. A história como esta, extraordinária e linda, até deu à gente uma quente encorajem.


A entrevista daquele dia evoluiu posteriormente várias conversas. Falava do passado de Macau que ficou na sua mente e a sua época quando era jovem. Doía-lhe o coração por ver a modernização que estragou o silêncio da cidadezinha. Na minha mente estão especialmente nítidas estas palavras: “a paixão minha por Macau, tem que ser maior do que a dos muitos chineses que nasceram cá.” Não me atravesso a dizer o que ele disse é mais ou menos verdadeiro, mas pelo menos, a sua paixão por Macau, podemos ver nos contos e romances.


Naquele anoitecer em que foram acesos inúmeros candeeiros, naquelas ruas grandes e travessas pequenas, em toda a sua memória… Fotografias ou cinema agarram provavelmente estas cenas, mas não o cheiro. Nos seus contos e romances, há uma Macau de ontem tão nítida tão clara, uma Macau tão sonora, tão colorida, tão cheirosa, tão animada!


Henrique de Senna Fernandes era um dos filhos da terra mais interessantes que tenho visto. Agora partiu. Espero que parta bem.

In Jornal Ou Mun, edição 17 de Outubro de 2010.
http://www.macaodaily.com/html/2010-10/17/content_520771.htm

2010年10月4日 星期一

再向我的飛歷奇老師致敬

十月四日清晨從朋友得悉飛歷奇博士去逝的消息後,第一件做的事是從網絡新聞媒體中查證,確定後為這位「老師」的辭世感到婉惜。

二零零七年九月仲秋,因為好奇與學長蘇家樂先生到了飛歷奇博士在南灣的律師樓。家樂在同年澳大葡語暑期課程上聽過博士的講座,也發問過,算是認識博士,可我們事前並沒有預約。到了律師樓只跟飛博士的助手Fátima太太說了我們來想跟博士聊天,博士即接見了我們。飛歷奇博士給我的第一印象是他沙啞的聲音,還記得博士曾開玩笑說那是「當過大狀」的後果。

熟識博士的前輩也說過他很喜歡聊天和對友人訴說舊日的故事。零七年赴科英布拉文學院學習前,我大膽地說自己跟同學製作紀錄片並邀請博士作訪問,竟得到博士應允。那是一個星期一的早上,博士如常從住所走路到律師樓上班。本來說好只有卅分鐘的時間,之後卻花了逾一小時接受訪問,令聲帶累透了。回想起來,與其說是訪問,更應說飛歷奇博士為我們補了澳門知識的一課。

出發赴葡前紀錄片在澳門大學試映,我又邀請了博士發言。博士說他戰時在廣州的生活,說他對澳門的情感,好像要說出所有他想對澳門說的話。站在澳大國際圖書館STDM演講廳的台上一個多小時,對於一個八旬老人來說太久了。演講廳的台階很高,博士下來時感到痛錯,大叫了一聲:「啊!」

零八年澳門大學決定向飛歷奇博士等四位傑出人士頒發榮譽博士學位,我在行政樓上看到了另外三位均有講座,因為呼吸道手術而不能說話的飛歷奇博士卻沒有任何額外的活動,因此我即向葡語學會時任副會長趙浩明先生提出合辦致敬會的建議,之後又請求國際研究所支持。沒想到飛歷奇博士本人答允出席,更沒想到致敬會是葡語社群當日的唯一活動。那時一些海內外土生社團的代表也表示樂意發表賀辭,後來劉羨冰校長也決定出席並發言。飛歷奇博士不只屬於葡語社群,他也屬於華語讀者,也屬於澳門。那是我學生生活中所做最有意義的一件事。

這些日子裡我收集了一些關於飛歷奇博士的訪問、錄音和信件,有機會認識更多這一位令我深感敬佩的前輩。他對澳門的強烈情感,他對回憶往事的執著,他那濃厚澳門土生口音的葡語,還有他那雙「會說話的」手,無不令我留下深刻印象。這一刻,在科英布拉法學院附近一位澳門法律學生的家裡,我記起飛歷奇老師在律師樓裡拍著我的臉,回應我的話說:

É, é uma lição. Aparece!
(對,這是一課。下次再來!)

飛歷奇老師,希望您能在這片您家世代扎根又充滿激情和回憶的土地裡安息,學生再次向您致敬!

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