2010年10月19日 星期二

"Aquele velho homem que escreve o amor e os dedinhos de pé"

Hoje encontrei um artigo de um escritor ou uma escritora que escreveu com o seu pseudónimo Gu Yu (que significa Chuva de Trigo) sobre o Doutor Henrique de Senna Fernandes no jornal Ou Mun. Publicou-se o artigo na coluna conhecida “Rua Formasa” do diário em chinês. Agora acabei de fazer esta tradução.

Gu Yu


O escritor filho da terra, Henrique Rodrigues de Senna Fernandes era um homem velho, não alto, gordinho e que tinha um brandy nose. Quando escrevia a tese [de licenciatura], estive uma vez no seu escritório na Nam Van (Praia Grande). Lá estava pendurada uma grande fotografia da actriz Ning Jing. Tendo visto que eu estava a escrutinar esta fotografia, o homem velho riu-se e disse: “She's beautiful, isn't she?! I love her.” Era esta uma fotografia de modelagem de Ning Jing na filmagem d’A Trança Feiticeira. Lisa e abundante a testa, brilhantes os grandes olhos, cheios de sorriso, doce é a actriz.


Aconteceu isso há cerca de cinco anos. A minha colega “I-sap-gou-pao” [literalmente, vinte pães] (Isabel) que estava ainda em Portugal ajudou-me como intermediária a marcar uma hora. Na conversa ele apresentou-me os seus contos em livro “Nam Van”. Dizendo-lhe que não se encontrava à venda, ofereceu-me já no dia seguinte um traduzido para chinês, que bom. Embora me sentisse um pouco desapontado quando acabei de o ler, uma vez que, nalguns contos, o seu olhar, o olhar para o mundo dos chineses é de alto para baixo. Ainda é em A Trança Feiticeira que se descrevem mais viva e razoavelmente aquela aguadeira, aquele belo filho da terra de uma rica família.


O que Nam Van reúne é as suas obras iniciais, cujas histórias ainda são bastante boas. Porém, o seu estilo de escrita era menos natural do que dos posteriores romances, os papéis não eram suficientemente ricos, e ainda por cima, quando contava as histórias dos chineses, mais ou menos tinha uma pena, de alto para baixo. Não me sinto muito agradável quando o leio.


Uma vez ele disse-me: “Amanhã arranjo-te o meu Nam Van, tem que ser o teu favorito.”


Peço desculpa. Esse não foi o meu “favorito”, do qual gosto mais é o seu Amor e Dedinhos de Pé. Este romance contou o amor entre dois filhos da terra. Não apenas é atraente a história, mas também são mais caracterizadas as personalidades no romance do que as outras duas obras. A história como esta, extraordinária e linda, até deu à gente uma quente encorajem.


A entrevista daquele dia evoluiu posteriormente várias conversas. Falava do passado de Macau que ficou na sua mente e a sua época quando era jovem. Doía-lhe o coração por ver a modernização que estragou o silêncio da cidadezinha. Na minha mente estão especialmente nítidas estas palavras: “a paixão minha por Macau, tem que ser maior do que a dos muitos chineses que nasceram cá.” Não me atravesso a dizer o que ele disse é mais ou menos verdadeiro, mas pelo menos, a sua paixão por Macau, podemos ver nos contos e romances.


Naquele anoitecer em que foram acesos inúmeros candeeiros, naquelas ruas grandes e travessas pequenas, em toda a sua memória… Fotografias ou cinema agarram provavelmente estas cenas, mas não o cheiro. Nos seus contos e romances, há uma Macau de ontem tão nítida tão clara, uma Macau tão sonora, tão colorida, tão cheirosa, tão animada!


Henrique de Senna Fernandes era um dos filhos da terra mais interessantes que tenho visto. Agora partiu. Espero que parta bem.

In Jornal Ou Mun, edição 17 de Outubro de 2010.
http://www.macaodaily.com/html/2010-10/17/content_520771.htm

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